sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Vultos




 

Pela janela do ônibus

percebo fantasmas


 

eles esperam no ponto

pela sua condução

(sabe se lá para onde)


 

    também estão pelas ruas

        nas calçadas

        nos semáforos

nas praças

 

seus olhos opacos

inexpressivos

cortam-me

fundo

(não os ressuscitarei com meus centavos)


 

     invisíveis

numerosos

temíveis

 
natimortos a sugar tetas secas de cola
algo move-se entre os jornais e papelões

 
puxão na barra da calça
tão comum que é despercebido
automático não
não
e NÃO

 
nada mais que ecos

compreensivelmente renegáveis
de relance vultos
a purgar
e queimar
na esquina

 
(Eduardo Barbossa do livro "Bestiário Antropomórfico")

(Desenho "Vultos" de Eduardo Barbossa, também do livro "Bestiário Antropomórfico")

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