segunda-feira, 19 de março de 2012

Nossa nova e confusa Amélia


 

moro em uma casa que fede abandono

móveis cobertos com poeira de solidão

louça por lavar

sexo por fazer


 

ela ignora que somos seres vivos (casa e eu)

e deixa que os dias se acumulem sobre nós


 

a filha chora por atenção

enquanto nós (casa e eu)

mantemos o silêncio sob a roupa suja no chão da lavanderia

existe muito a lavar

(porém ela resiste ao impulso)


 

o trabalho fora a consome

o salário é essencial para manter os cosméticos


 

e nós

sempre estaremos aqui

a aguardar seu retorno

com nossa organização masculina

nossa educação masculina

nossas contas de água e luz (estritamente masculinas)

e nossa solidão (assexuada)


 

nós

casa e eu

queremos combater o mofo que invade as paredes

lavar a louça

varrer

amamentar

mas não sabemos como

(nossa masculinidade nos prejudica)


 


 


 

(Eduardo Barbossa no livro "Minhas Simplicidades")

2 comentários:

  1. Amélia é que era mulher de verdade. Um machismo. A Amélia moderna tem de se adaptar a um novo gênero.

    Grande abraço,

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    Respostas
    1. Isso mesmo... Mas a maior adptação deve ocorrer nos homens.

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