sexta-feira, 8 de março de 2013
Vida
e a frase clichê que constata o óbvio
a brevidade única de uma existência
assovio aleatório
feito pelo vento
ao passar entre as frestas
da casa velha de madeira
a cidade muda
meu rosto se marca
(mas meus ouvidos ainda ouvem o eco)
passou... simplesmente isso
o amor
o velho
a criança morrendo mais cedo
apenas o céu é o mesmo em minha vida
(ilusão de eternidade feita pela luz)
Eduardo Barbossa - Inédito - Escrito para o blog
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Sobre as flores e o vento
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Reflexos
tenho pressa senhor
da morte que não vem
o sorriso apagado do canto do lábio
e flores anônimas
sopra-me
o deserto reversivo
da alegria recolhida
a rodopiar em turbilhão de dia-a-dia
respostas vagas para perguntas não formuladas (sentidas)
e eu perdido no viver
anseio
por palavra sua
(Eduardo Barbossa, do livro "Minhas Simplicidades")
terça-feira, 10 de abril de 2012
Desintegração
tornou-se só
nada mais que pó
invisível aos olhos normais
distante dos núcleos sociais
partícula alheia
reação em cadeia
(porém individual)
provocada ou natural
fruto do decorrer dos anos?
raios marcianos?
escolha alheia absorvida
ou destruição da própria vida?
o fato é que é engolida
digerida
acalentada
terça-feira, 27 de março de 2012
Um copo de leite
o que me dá sono
não é apenas a tarde de domingo
o discurso interminável
a poesia sem nexo
não é só o sexo
o fogão à lenha
a "Doce Vida" de Fellini
ou o novo vencedor do Oscar
não são apenas os pseudo-intelectuais
as críticas usurpadas
paredes diplomas
água morna
paisagens em cor pastel
meu sono é embalado pela mesmice
que murmura uma leve canção de tédio.
(Eduardo Barbossa do livro "O auto do destrutivo")
quinta-feira, 22 de março de 2012
O mundo dos sonhos
temia a imprevisibilidade do sonho
a qualquer momento
um monstro
poderia sair
de um armário qualquer
hoje
ao contrário
temo as certezas da realidade
(sinto falta dos sonhos)
(Eduardo Barbossa, do livro "O compendium da queda - Impacto da realidade" - Inédito)
quarta-feira, 21 de março de 2012
Abandono
não me desampare
estou só (como sempre estive)
louco (doente de aflição)
triste (carente de abraços)
escapa-me o norte
desvanece-me o chão
(Eduardo Barbossa no livro "Minhas Simplicidades" )
segunda-feira, 19 de março de 2012
Nossa nova e confusa Amélia
moro em uma casa que fede abandono
móveis cobertos com poeira de solidão
louça por lavar
sexo por fazer
ela ignora que somos seres vivos (casa e eu)
e deixa que os dias se acumulem sobre nós
a filha chora por atenção
enquanto nós (casa e eu)
mantemos o silêncio sob a roupa suja no chão da lavanderia
existe muito a lavar
(porém ela resiste ao impulso)
o trabalho fora a consome
o salário é essencial para manter os cosméticos
e nós
sempre estaremos aqui
a aguardar seu retorno
com nossa organização masculina
nossa educação masculina
nossas contas de água e luz (estritamente masculinas)
e nossa solidão (assexuada)
nós
casa e eu
queremos combater o mofo que invade as paredes
lavar a louça
varrer
amamentar
mas não sabemos como
(nossa masculinidade nos prejudica)
(Eduardo Barbossa no livro "Minhas Simplicidades")
quarta-feira, 14 de março de 2012
Cotidiano
amarrado à velha árvore do mundo
espero
quando tento mover-me as cordas apertam
(em insuportável dor)
corvos sussurram obscenidades
minhas chagas invadidas por formigas
o sangue que escorre é cobiçosa bebida
todos querem um pouco mais de mim
(aguardam minha carne)
durante o dia
o sol queima a pele
durmo acordado
devaneio realidades
vejo o horizonte
e imagino além
vejo plantas
insetos
homens
e imagino
talvez tire algo de bom desta passagem
talvez aprenda algo de importante
que não seja apenas
estagnação
imobilidade
e a vã espera
amarrado à velha árvore do mundo
permaneço
(Eduardo Barbossa do livro "Minhas Simplicidades")