quarta-feira, 14 de março de 2012

Cotidiano


amarrado à velha árvore do mundo
        espero

 

quando tento mover-me as cordas apertam
(em insuportável dor)

 

corvos sussurram obscenidades
minhas chagas invadidas por formigas
o sangue que escorre é cobiçosa bebida
todos querem um pouco mais de mim
(aguardam minha carne)

 

durante o dia
o sol queima a pele
durante noite
o vento congela os ossos

 

durmo acordado
devaneio realidades

 

vejo o horizonte
    e imagino além
vejo plantas
    insetos
    homens
        e imagino

 

talvez tire algo de bom desta passagem
talvez aprenda algo de importante
    que não seja apenas
        estagnação
        imobilidade
        e a vã espera

 

amarrado à velha árvore do mundo
        permaneço


(Eduardo Barbossa do livro "Minhas Simplicidades")

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